segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Montar um texto não é o mais importante. O mais importante é o que acontece ao redor


Quinta-feira, 14/10/1976

Chico – Turma boa.... nós já fizemos e desistimos de muitas coisas. Tudo bem! Agora, nosso acordo é tentar montar ‘Os três médicos’. No pé em que estamos, devemos apreender o texto - está lá defronte – na parede - e cada um tem uma cópia que eu paguei e não estou cobrando). Então, vamos criar coisas para esta grande farsa (ou não? Digam uns aos outros).


Se vocês não estão a fim terão de me dizer diretamente, pois eu me nego a compreender através de indiretas. Penso que o curso já produziu resultados estimáveis e se vocês só queriam isto, tudo bem! Espero que me digam claramente, pois já tivemos em aulas extras o suficiente para cumprir as exigências do curso – o que nos dispensa de mais tarefas. Falem claramente. Penso que poderemos aproveitar a oportunidade para pensar algumas coisas para os problemas atuais do Teatro no Brasil. Fazendo!


  • Decorar o texto não é fundamental. Fundamental é inventar. O texto é de vidro. As invenções não são para quebrá-lo, mas para poli-lo.

  • Precisamos colocar as falas mais distantes umas das outras. Colocar no meio o futebol. Gravar o jogo de futebol: situações de impedimento, o gol, a fala da Zebrinha (TV Globo).

  • Precisamos saber como anunciar a peça, os cartazes.

  • Gravar uma entrevista sobre o que as pessoas acham do teatro. Gravar as respostas. Serão usadas durante a peça. De repente, perguntar para alguém do público o que acha do Teatro. A resposta sai, mas do gravador.

  • Podemos colocar os atores em fila, protestando contra a lei que regulamenta a profissão de ator.

  • Quando Miguel aparecer ou falar, coloca-se a música ‘Navegar é preciso’ ou ‘Cisne Branco” ou um apito de navio (o personagem é oficial da Marinha).

  • Tirar partido dos defeitos: os atores estão ainda se arrumando e a luz acende.

  • Ler e ver na peça: a intenção, o tom dela, as cenas que auxiliam ou negam a intenção. Isso para se obter um gráfico de intenções e de incoerências.

  • O médico alopata pode entrar em cena empurrando um carrinho de supermercado cheio de amostras grátis e distribuir a todos.

  • Em algumas cenas, os atores conversarão com o público, falarão dirigindo-se ao público e não um para os outros.

  • Se a peça for encenada no Galpão, colocar alguém todo o tempo rodeando a arena. É o vigia da peça, um polícia ou um padre.

  • Dizer no programa, que o homem que anda em volta da arena é um polícia e que estamos reivindicando um policiamento ostensivo no teatro, como nas praças públicas e no futebol. Não um policiamento confortável, sentado (como acontece), mas em pé, andando, como no futebol, nos jardins.

  • Montar um texto não é o mais importante. O mais importante é o que acontece ao redor.

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