sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Anotações 3 - Aconteceu e o incessante continua...

Segundo semestre de 1976
Texto sem marcação de dia e mês

Chico - Alguem já disse: Não sou teórico das coisas que eu faço. Minha teoria é não ter teoria. Sou uma ordenada, sistemática, racional. As coisas mudam quando eu aqui chego, e mudam também pra obra da minha ausência.

  • Havia, há aqui, um convite para se fazer as coisas sem pensar. Ninguém ta disposto a conversar.
  • O discurso agora é violento, imposto. Há o abandono da persuasão. Não há também vontade de cooperação.
  • A gente passa a vida toda elogiando nos bons jogadores, mas eu também sou um bom jogador. Bons jogadores quando atuam são capazes de mudar as coisas positivamente. Porque as mudanças que ocorrem quando eu chego têm que ser necessariamente negativas?
  • A peça aconteceu. Aconteceu no meio de outras. E o incessante continua. Não sei o que é estar consciente, o que é inconsciente. O que eu vejo: A história, a ciência me diz, que há coisas que acontecem no estado de consciência e outras num estado de prontidão para as coisas.

Gustavo dá uma gargalhada

Chico - Quando não gosto, gozo, brinco, depredo. Eu queria escandalizar um pouco mais. Eu realmente sou inteligente, pessoa de qualidades excepcionais. Meus palpites não são aceitos. Os palpites de Rui Guerra são aceitos, e é uma pessoa menor que eu. Sou humilde, simples. E acho a modéstia uma doença. Sou uma personalidade asfixiante até certo ponto.
Já fiz vários testes, eu sou uma personalidade excepcional. Sou um indivíduo extremamente crítico. Muitas coisas que eu tento fazer, não consigo. Há uma intranqüilidade para se dar opiniões. Tenho uma solidão horrível para se conversar. Acho o Daniel excepcional. Às vezes tenho inveja da inteligência dele. A inteligência tá no rol das coisas observadas. Aqui, nunca minha opinião venceu. Elas foram derrotadas. Por outras opiniões.

  • Para Lenine, a prática é o critério geral da verdade. Quando eu digo isso, estou pensando no caminho percorrido por ele para concluir isso. Lenine ta dizendo com isso: Agora viva. Ele trabalhava pensando. Gostava de pensar.
  • O que é a inteligência? É trabalhar no mundo. É se transformar.
  • Falar sobre teatro a partir das inexperiências mesmas. Subterfúgio em teatro (uma ação para si só ou para os expectadores): Coincide com as coisas que eu não consegui dizer.
  • O teatro vai provar que é bom não aos expectadores, mas na cultura onde foi realizado, celebrado.
  • A falta de teatro vai despreparando as pessoas para o teatro. Teatro é uma coisa reconhecida como teatro. O teatro grego, eu confio, está depositado no nosso teatro.
  • Faço teatro para mim e os outros são os meus semelhantes. Fazer uma coisa como se fosse para mim, julgando que esse é o melhor modo de fazer para os outros. Aprender fazer fazendo.

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