terça-feira, 4 de novembro de 2008

A beleza é Deus. Tá em toda parte, é um equilíbrio

Segunda-feira, 11 de Outubro de 76

São colocadas as cartolinas na parede. Dezoito. Uma para cada cena.
As cenas são pregadas nas cartolinas.
O espaço logo abaixo de cada cena será usado para escrever o que for a ela acrescentado.
Os espaços laterais serão usados para os gráficos de som e luz, intenções e coerências.


Antes da primeira cena:

  • A conferência sobre Martins Pena
  • Pisa nas palavras difíceis – usar o dicionário da época

Antes de cada cena:

  • Pisa nas palavras difíceis – usar o dicionário atuatual
  • Um dos atores diz em tom solene ou esculhambado os personagens e nomes citaEx: nessa peça falaremos sobre

Nas coxias as cenas serão pregadas na parede de três em três:

  • A que passou
  • A que se passa
  • A que passará

Intenção da peça (e cenas):

  • Arranjamos uma e a descrevemos.

Coerência

  • Uma coerência anterior (se o personagem cai em determinada cena ele já deve estar vindo tropeçando; ou não) e uma posterior (determinada coisa que acontece numa cena foi preparada nas anteriores e não deve se acabar totalmente nas posteriores).

Som

  • Usaremos dezoito fitas cassete. Uma para cada cena. Todas gravadas no lado 1.
  • Todas estarão no ponto zero.
  • Trabalharemos com 2 gravadores.
  • O som coincidirá com o texto ou fará alusões a ele.
  • O som fará um back ground (BG) da cena.

Luz

  • As cenas serão cortadas com luz.
  • Jogar com o escuro no final de cada cena.
  • As interrupções serão mais, ou menos longas.
  • Em algumas das cenas fazer brincadeiras com o desarrumar da cena. Não se apaga a luz e os atores ficam desorientados. Quando resolvem despistar e sair a luz se apaga.
  • Devemos colocar no teatro tudo o que acontece sem querer.
  • Um ator diz uma fala e alguém interrompe dizendo que ainda não é hora.
  • Podemos inventar bastante mas no sentido do que está se fazendo (a peça) não contra.
  • Começar a peça num momento legal. Ensaia-se depois as cenas mais parecidas. Como em cinema. Dando uma certa continuidade.
    Podemos descobrir coisas aqui sentados, porque mesmo calados estamos conversando, existem certos fluídos caminhando assim de uns para outros. Podemos descobrir durante os ensaios e ser organizar quando houver o que organizar.

A intenção da peça:

  • Muitas partes da peça escondem a intenção dela que se mostra bem claras algumas vezes (como na vida).
  • Tentar passar pro público a intenção da peça sem dizer diretamente – mas fazendo teatro.

Como descobrir a intenção da peça:

  • Ler o texto interpretando-o
  • Observar quando a intenção está próxima e quando não está
  • Quando se está no texto mais próximo da intenção talvez seja o momento que passa mais despercebido
  • Às vezes a intenção coincide no texto, na interpretação, no som, na luz – é o que chamamos de clímax

    Interpretar = deformar a peça.

A peça deve criar um ambiente onde o personagem entra como na vida.
Podemos fazer um espetáculo bonito:

  • Na geografia, na gravitação, no som, na maneira das pessoas estarem em cena.
  • Como uma cancã tudo é muito fácil, mas que ninguém saiba explicar comoé.
  • Trabalha-se com muito sentidos das pessoas, então devemos futricar a memória das pessoas. Colocar um incenso, uma luz mostrando e escondendo.
  • Um espetáculo bonito, de vidro, cristalino que negue uma série de certezas.

Há uma ideologia no ar. Uma estética do mal feito, do mal acabado. Mas a imitação mal feita do mal feito só deve interessar a quem sabe fazer bem feito. O mal feito é uma denúncia do que o bem feito é vazio. Desenvolveu-se tanto uma capacidade de se fazer, a estética foi tão dominada que se esvaziou o conteúdo.
As pessoas que acompanham este processo, os artistas, os críticos partiram para uma arte que é uma desistência dos acordos que ela mesma criou. Então, é bonito porque é esquisito. Os que não acompanham este processo, os que chegam depois... só imitam. Querem agora negar o que nunca afirmaram. Servem então de apenas um passo do fundo para que a arte se realize.

Cláudio: Já sei que teatro é esse que você está falando. Um teatro clássico.

Chico: Não sei. Pode ser. Clássico.O Rogério disse que era hiper-realista. Não precisamos ter medo dessas palavras: clássico, hiper-realista... O importante é perceber que a recuperação da beleza será a percepção de muitos daqui uns tempos. Descobrir num certo momento que é necessário uma coisa bela humana. As pessoas assistem uma coisa bela e ficam envergonhadas, preocupadas. Imaginem o Paulinho da Viola cantando uma música extremamente bela, uma ária, durante dez minutos. Tudo muito bonito no som, na luz, nos gestos. As pessoas ficariam encabuladas, com remorsos. Ele faria muito mais do que se cantasse uma música falando sobre bombas. Temos que fazer bonito, mas dentro das nossas limitações, como sabemos e podemos fazer.
A beleza é Deus. Tá em toda parte, é um equilíbrio.
Vamos ler? Brecht, Ápia, Girdon Craig (Nétodo ou loucura).

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