quarta-feira, 22 de outubro de 2008

PerturbaçãoX participação

Continuação do post anterior:

4. Quando o público assiste um espetáculo, passa a dirigí-lo. Então, com tal percepção perde-se a noção de espetáculo perturbado. Nunca é perturbação. É legítimo qualquer coisa que o público faça. Me parece que o que não é legítimo é esperar um comportamento do público. Contar com ele. Um espetáculo que espere um comportamento do público já foi mostrado, já existiu. Não precisará se mostrar outra vez porque será repetição, que é a natureza do cinema.

5. O filme está guardado dentro de uma lata, fixo, impertubável. Mas a natureza de um espetáculo me parece ser a perturbação que o público causa nele. Perturbação que o modifica, que o dirige, o redireciona, que dá sentido a ele. Expectativas sobre o resultado do espetáculo me parecem uma ingenuidade.

6. Eu estive lendo o Zé Vicente - a peça dele, O assalto, está aí na cidade - e o Zé Vicente falou algumas coisas que estão próximas do que eu penso, o que me deixa também próximo do que ele pensa. Troquei algumas idéias com o Zé Vicente. Ele diz que não sabe o que é teatro, que não é teórico das coisas que faz. Mas que tem noção de que o espetáculo é um ato litúrgico, é uma religião, uma igreja, uma cerimônia, é uma celebração. Então é isso: celebramos diante das pessoas e as pessoas participam desse celebração.

Oficina de Teatro e Dança

UnB 1976


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