quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ensaio X Espetáculo

Em 1976 eu e minha recém amiga Bia nos matriculamos na matéria optativa 'Oficina de Teatro e Dança'. O professor era Francisco Pontes, o Chico, que fazia mestrado, na época. Nesta oficina nos propusemos a encenar Os três Médicos de Martins Pena e organizar um musical.

O que vai abaixo é a transcrição de uma fita que gravei do Chico fazendo uma reflexão sobre o que havia acontecido no curso, que já caminhava para o final. Vou postar por partes sempre numerando os parágrafos para facilitar alguma revisão ou comentário adicional.

1. Será que eu poderia fazer de conta que essa organização das minhas idéias serve para alguma coisa? Eu estive pensando sobre a apresentação que a gente fez ontem aqui. Aquela coisa que a gente não sabe se foi ensaio, se foi uma apresentação. E que diferença há entre ensaio e apresentação? Para mim parece ter ficado claro, e eu estou gostando dessa idéia, que a diferença é a presença do público. É a presença de pessoas assistindo. É esse elemento do ritual que chamamos de montagem o que falta no ensaio. O público num ensaio é a cabeça do diretor, é a consciência dos atores de que esse ritual só se completa com a presença do público. Então, não podemos de chamar de ensaio, se há público.

2. Outra coisa também que gostei de pensar depois do espetáculo de ontem, e durante também, é a idéia de que um espetáculo toma a direção que o público dá a ele. A presença do público, o comportamento do público impõe ao espetáculo uma direção, uma qualidade. Um espetáculo nunca é o mesmo e isso depende do público. O público dá essa direção.

3. Quer dizer, eu perdi a noção do que é ensaio, do que é o ritual do espetáculo propriamente dito, mas ganhei a noção de que a montagem da peça, do espetáculo é a presença do público. Em seguida, eu perco a noção do que é direção, do que é diretor e passo a ver de outro modo: o diretor é o público. No ensaio, o diretor está substituindo o público. Então, chamamos de ensaio quando o espetáculo está sendo dirigido por uma pessoa só, que substitui o público. Mais ou menos isso e essa idéia não é nova.

Oficina de Teatro e Dança
UnB 1976

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