terça-feira, 28 de outubro de 2008

Eu queria apontar o sol antes que a noite aconteça...

Quarta-feira, 6-10-76


Alguém pergunta:

-Vamos montar a peça infantil? Desistimos mesmo?

Chico pede pra que alguém leia os objetivos do curso.

Ana lê:

  • Desenvolver exercícios dentro dos processos mais usuais no teatro envolvendo todas as atividades necessárias para a apresentação de peças em algumas modalidades que guardem relações de intimidade com a cultura brasileira e com o fenômeno educacional.
  • Não consta nos objetivos que se deveria ser montadas as peças. Mas desenvolver exercícios... A peça infantil provocou atritos. Para se montar uma peça precisa haver certas coincidências. E elas não aconteceram. Quando a peça infantil tava sendo montada, se fez tudo pra que não fosse. Conseguimos isso. Agora que conseguimos, tamos fazendo tudo para ela ser montada de novo. Turma, vamos deixar de brincadeira?

Sobre a bibliografia: quem trouxe alguma relação de livro entregar pra Clara ou Bia. É pra se procurar a bibliografia nas áreas afins.

Sobre o musical. O que foi que imaginaram? Precisamos de um esquema geral.

Luiz: pensamos reunir músicas brasileiras que marcaram época, usando a coreografia também da época. A gente podia pensar em carnaval, folclore, brincadeiras.

Daniel: A gente podia usar gritos, barulhos, fazer coisas sem instrumentos, sem artifícios. Usar gestos, movimentos.

Alguém pergunta: O musical é pra adulto ou criança?

Marilena: Acho perigoso falar sobre o que é infantil nessa sala. Já deu muita confusão.

Chico: Se quiser, pode sair...
Turma, vamos sentar no chão?
Aposto que sentados no chão nossas conversas serão diferentes. Conversemos.
Quem gosta de canções infantis, os adultos ou as crianças?

Roberto: Ninguém. Todo mundo agora só quer saber de televisão.

Chico: Vou mostrar pra vocês uma historinha que eu trouxe. Cada um lê e vá passando.
Eu penso que a gente inventa um assunto pra se conversar no lugar do que se deve estar conversando. A gente fica, e quando a gente enfrenta o assunto inventado, as pessoas despistam. (Conversando em coisas de adulta e criança como se acreditasse no que se fala)

O assunto era: idéia pro musical.
A questão inventada foi: adulto ou infantil.
Enfrentamos e o que aconteceu: despistamento, a conversa sobre televisão.

Historinha que eu mostrei: Foi porque eu queria apontar o sol antes que a noite aconteça.

- Voltemos a falar sobre o musical: Não prestem atenção ao que a Laurete diz. Ela tem se mostrado uma boa censora das idéias que aparecem aqui.
- Se faz umas coisas bem esculhambadas.
- E depois se critica. (Os professores de educação se reúnem em congressos pra malhar a escola que praticam).

Pedro: O musical pode ser uma crítica à Brasília. Ninguém fez isso ainda.
- Podia ter a inauguração, colocar uma fita no palco pra ser cortada.
- Como surgiu o nome Catetinho
(A inauguração. Alguém diz alguma coisa e cortava a fita).
- Isso é muito antigo.
- Eu nunca vi!

Daniel: Eu acho que os prédios de Brasília não foram feitos pra durar pouco. Acho que duram uns duzentos anos, ou mais, uns trezentos. São de concreto assim...
- Risadas...

Chico: Queria saber com quem o Daniel ri das esculhambações que ele faz aqui na sala. Queria conhecer a turma dele e do Augusto também.

Pedro: O musical podia ser como a gente vê Brasília. Não tem ainda uma literatura sobre o assunto. Um poema sobre as pessoas, os bares da cidade.

Augusto: Já escreveram sim sobre Brasilia. A Maria Clara Machado já escreveu.

Chico: Já falamos aqui que os ideais de autenticidade e espontaneidade são maiores que o de originalidade. Afinal como diz um provérbio secular: não há nada de novo na face da terra. Não vamos obstruir não turma! Obstruir é chato! Mas o Augusto se quisesse, se pudesse, podia também derrubar o argumento do Pedrinho de que não há nada escrito sobre Brasília, falando que o Tom e o Vinícius escreveriam.

Pedro: Tô pensando em alguma coisa bem descontraída. Não precisaria se inventar personagens. Os personagens seriam nós mesmos.

Laurete: E a coreografia? Coreografia é muito difícil.

Chico: Achar uma coreografia é fácil. O diabo é que ficamos pensando em coisas exóticas tipo Gene Kelly... Tem uma coisa que é coreografia e outra que a gente chama de coreografia.

Pedro: A gente pode satirizar a coreografia.

Chico: Coreografia segundo a Laurete é uma coisa diferente do que estamos fazendo aqui. Coreografia para a Laurete é uma coisa ensaiada , combinada. Isso pra mim chama-se iniciação à tortura.

Pedro: A gente pode pensar em coisas assim: - Vamos fazer movimento estudantil? E aí todo mundo começa a se mexer. (Se mexe).

Pedro Paulo: Podíamos fazer um musical com músicas que nós lembramos. Canta meu limão, meu limoeiro.

Chico: Você tá lembrando dessa música aí ou do Simonal.

Arão: Vamos escolher um tema?

Chico: A Márcia tem uma idéia, não sei se ela vai dizer... Sobre Brasília o Clodo tem uma música muito bonita. Eu também. Esses musicais nobres: Arena canta Zumbi, Liiberdade/Liberdade mentem pro danado. O musical é mais ou menos uma festa depois tem umas inclusões bem sérias. A música nada tem a ver com o clima das falas.

Arão: Depois de falar sobre o crescimento de Brasília, fazer uma coreografia, música, barulho de carro, maquinas de tirar fotografias, turistas chegando na catedral. Niemeyer dizendo não basta esta cruz.

Chico: Sobre o musical só temos essas idéias? Então a gente conversa agora sobre os três médicos.


Os três médicos


A gente pensa essa peça pro Arena ou Martins Pena? Arena? Então podemos colocar uma pessoa vestida de azul marinho rodeando o tempo todo a Arena. Por quê? Coisas da vida. É o vigia do nosso bloco. É o vigia da peça. É chato fazer as coisas explicando por que.
Podemos colocar aqui na sala umas cartolinas. Em cada uma delas se faria anotações de cada uma.
Faremos um gráfico das coincidências. Por exemplo: se numa cena um personagem tem medo de cachorro. Em outra cena esse medo tem também que aparecer.

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