terça-feira, 28 de outubro de 2008

"Em comparação com o começo, eu desanimei muito"

Segunda-feira, 4-10-76

Antes do início da aula o depoimento do Pedrinho:

Agora é a parte mais difícil do curso, do trabalho do grupo porque havia se proposto muita coisa: fazer a história da casa, os 3 médicos e agora ninguém tá fazendo nada.

Teve esse lance aí por parte do Chico de não se fazer as peças.

O início do curso foi bom, apesar do Durvalino ter dito que seria difícil fazer um trabalho porque ninguém se conhecia.

Quando foram apresentados os textos houve muita confusão. Eu disse que os textos não tavam com nada.

Eu acho que não precisava ler Cecília Meireles. Não precisava ler nada antes de se fazer o texto. Mas só depois de ter feito, de ter se criado uma estrutura a gente buscaria estas coisas para enriquecer o texto. Vou fazer uma analogia: primeiro a gente compra o terreno, depois o material para casa. Não o contrário. Quando a Ruth trouxe o gravador com aquelas músicas pra peça não havia ainda se estruturado um texto. Se houvesse, a gente podia ter discutido se o que ela havia trazido servia ou não.

Agora, essa de se suspender as aulas pra se procurar uma bibliografia. Sou contra fazer isso durante o tempo de aula. As aulas são poucas. Por isso devem ser aproveitadas ao máximo com ensaios. E não com discussões como tem acontecido.

Penso assim: se a gente quer fazer teatro, o produto final é a peça montada, não o texto que é só um caminho pra se fazer teatro.

Agora nesta fase tô meio desanimado. Eu resolvi me dedicar a um só trabalho: os 3 médicos. Porque é à noite, eu acho melhor. O pessoal não vem ao ensaio porque a gente é um grupo, porque faz parte de uma turma que tem como ponto de referência a presença do professor pra dar força pro pessoal vir aqui. Eu, o Arão, o Durvalino temos vindo pros ensaios e não encontramos ninguém, nem o Chico. Acho que os outros ficaram desanimados por causa da dispensa das aulas pra se procurar a bibliografia.

Acho que existe clima pra se desenvolver qualquer trabalho. Por que não se desenvolve? As pessoas tão reunidas não como um grupo com vínculos. Mas como uma turma fazendo teatro como matéria que vale seus créditos, influi no MGA, etc. Falar como eu vejo as pessoas no curso acho que não devo, porque não é um grupo, mas um ajuntamento de pessoas.

Pelo que eu conversei com a Márcia, há pessoas que não estão afim de trabalhar como atores, mas só assessorando. Acho que todo mundo tem condição de trabalhar como ator. Tive vontade de pedir pra dirigir, fazer com que todo mundo participasse como ator de um laboratório, de uma criação coletiva. As pessoas não participam porque não houve um clima. Não houve uma chamada partindo do professor pra que elas participassem. Igual a que eu fiz quando eu chamei todo mundo pra construir a casa.

Acho que o grupo tá disperso.

Minha experiência em Planaltina: tô transando teatro com um pessoal de lá. Primeiro houve uma preparação: exercícios, dicção, etc. Coisa que na Oficina não pode ter. Tem umas treze pessoas participando do grupo e acontece durante um exercício de não ficar ninguém observando. Então a gente tem de escalar pelo menos duas pessoas pra observar e depois contar pro resto da turma como viu a experiência. Mas eu não espero que o pessoal tome iniciativa. Se eu ficar assobiando, esperando o tempo todo por eles não vai acontecer nada. Sempre no início é preciso de uma pessoa que coordene, que seja um líder sem ser um ditador.

Depois, essa pessoa com o desenvolvimento do processo podia até ser banida dele, tornar-se dispensável. Se aparecesse uma pessoa do próprio grupo que não fosse o professor pra fazer isso, seria melhor ainda. Eu muitas vezes na oficina pensei em tomar essa atitude. Acho que essa do Chico se excluir esperando que as pessoas tomem iniciativa é o maior erro da Oficina. Isso só daria certo depois que o trabalho houvesse ganho uma velocidade. Não sei porque o Chico fica saindo o tempo todo da sala de aula. Um dia eu faltei lá em Planaltina e no outro dia de encontro as meninas todas do grupo combinaram de não ir. Ficaram chateadas. Precisei escrever uma carta explicando.

Para os 3 médicos penso o seguinte: poderia se formar um grupo de oito pessoas que se disprisessem a se encontrar toda a noite. A gente depois poderia até dispensar a função do coordenador (Chico) depois de uma etapa de trabalho. Porque seriam pessoas envolvidas numa coisa que estão dispotas a fazer. Istó é importante porquena na oficina existe muita coisa que se faz sem vontade de fazer. Ou se tem vontade e não se faz.

Uma sugestão pro trabalho ir pra frente: já que está penoso se trabalhar com um grupo grande, dividir em três: um grupo pros 3 médicos, um pra casa, outro pro musical. Esses grupos trabalhariam em horários diferentes e quem quisesse podia fazer parte dos três. No começo o Chico devia estar presente em todos os três. Da metade dos trabalhos em diante não precisaria ir mais. As pessoas já teriam amor pelo que estavam fazendo.

É muito difícil um grupo trabalhar desde o início sem qualquer direção. Tô vendo que o semestre tá no fim e a gente não fez nada. Achei um absurdo suspender aula pra se procurar bibliografia. Teatro é um trabalho prático. A teoria vem depois. É um absurdo dispensar um tempo que a gente podia estar junto, criando relacionamento, ensaiando, pra procurar bibliografia.
Acho que esse negócio de não se fazer mais a peça, esta decisão foi pra cutucar o pessoal, ver quem tá mesmo afim de continuar o trabalho. Já houve outras vezes. O Chico já reclamou outras vezes. Já falou em cancelar o curso...

Em comparação do começo desanimei muito. Hoje se falto, chego atrasado, nem ligo. Se a gente não começar hoje a ensaiar os 3 médicos, vou ficar o resto do curso só dando umas ajudadinhas aqui e ali, mas sem o ânimo que eu tinha no começo.

Quatro horas e 10 minutos: Estão na sala de aula, Bia, Chico (lendo as anotações feitas pela Clara da aula passada), Clara (lendo jornal) e Pedrinho (folheando o livro “Comédias”, com obras de Martins Pena).
No dia 01/10 não houve aula.

Nenhum comentário: