tag:blogger.com,1999:blog-81840907978900375742024-03-04T23:26:06.770-08:00AH! se a juventude que essa brisa canta!!!Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.comBlogger60125tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-63916885361237828952009-05-20T17:27:00.000-07:002010-03-18T05:34:29.614-07:00Aviso aos navegantes!!!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3i0AhmiCctTDRVZqoGmKw9ceytCGsMlmTtJ5m7q9bI5N0PcwKc4W4-BlSuUovdvucfv30ceoUZtONpDehl7ZnReJ_CUZOr8fukA7g6ucB3HFEbIqxHk7A3zpQRmnLmLno1zWZgvtDNmo/s1600-h/Augusto+Pontes++-+Massafeira+1979_4.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 164px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3i0AhmiCctTDRVZqoGmKw9ceytCGsMlmTtJ5m7q9bI5N0PcwKc4W4-BlSuUovdvucfv30ceoUZtONpDehl7ZnReJ_CUZOr8fukA7g6ucB3HFEbIqxHk7A3zpQRmnLmLno1zWZgvtDNmo/s200/Augusto+Pontes++-+Massafeira+1979_4.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5338067387418831218" border="0" /></a>Este é um blog especial. Tem começo e fim.<br /><br />Nos posts estão transcritas minhas anotações das aulas da Oficina Básica de Teatro e Dança, ministrada por Francisco Augusto Pontes, conhecido por Chico Pontes e Augusto Pontes, ligado ao chamado Pessoal do Ceará que desembarcou, na década de 70 em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, e do qual fazem parte Belchior, Fagner, Petrúcio Maia, entre outros.<br /><br />O interessante é ler o blog de baixo para cima. Ou melhor, do primeiro para o último post. Ainda juntarei todos em um só para facilitar a leitura, a reflexo e até mesmo o debate.<br /><br />Resolvi publicar, por meio deste blog, minhas anotações porque eram importantes demais para ficarem engavetadas. As opiniões, procupações e devaneios de Chico podem ser lidas no presente. São atuais. O tempo tornou-as ainda melhores.<br /><br />Abraço a todos que se debruçarem sobre essas anotações e se animarem a registrar algum comentário. O espaço está aberto e é infinito.<br /><br /><span style="font-weight: bold; color: rgb(102, 0, 0);">Chico faleceu em Fortaleza, na sexta-feira, 16 de maio de 2009, aos 73 anos. </span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-37876734714094563152008-11-23T18:41:00.000-08:002009-02-20T10:02:38.744-08:00Anotações 07 - O aplauso desmancha a tensão provocada pela peça...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKfBV4w6hJew8gar-bTtLBOZpvU95t1Iteyhyphenhyphenc8ztZ2b88whi8KU0q1n7WFyoXyuwcuFiaoxB5-7QmViU8ROeBTYu0-QEtvfv0HN2tSrHJBfcr2dqFBLQMyuAyPURD61g9hTy9cJthmOs/s1600-h/bender_aplausos.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5304940899320205554" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 193px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKfBV4w6hJew8gar-bTtLBOZpvU95t1Iteyhyphenhyphenc8ztZ2b88whi8KU0q1n7WFyoXyuwcuFiaoxB5-7QmViU8ROeBTYu0-QEtvfv0HN2tSrHJBfcr2dqFBLQMyuAyPURD61g9hTy9cJthmOs/s200/bender_aplausos.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="FONT-WEIGHT: bold">Botei aqui, em 14 minutos marcados, o que eu penso sobre ensaio e apresentação. Quando defendo a apresentação única, não tô dizendo que não se deve repetir o processo de fazer. Mas que lição a gente tirou? </span><br /><br /><br /><ul><br /><li>A gente pode tentar fazer e se fez.<br /></li><br /><li>O ato de ensaiar é como aquecimento. Não quer dizer que se vá jogar assim.</li><br /><li>A apresentação nunca é a mesma mas as pessoas fingem ser. As pessoas riem, ficam raivosas ou sérias porque notam o que se espera delas. </li><br /><li>As coisas mudam naturalmente e não devemos nos assustar com as mudanças.<br /></li><br /><li>Não se assustar se um dia o público ri numa determinada cena, e noutro dia não. Os atores levam a família pra bater palma pra eles. Então não é preciso fazer nada. É só esperar pelas palmas. O aplauso desmancha a tensão provocada pela peça, o instante mágico em que se separa a peça da vida.</li><br /><li>Não havendo o aplauso, a energia não se dilui na vida, sobe para a consciência. Mas os atores não deixam fazer. E isso é uma verdadeira intervenção federal. Depois falam da censura. Os meus espetáculos são claramente uma procura.<br /></li></ul></div>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-3891637848794918602008-11-23T18:35:00.000-08:002009-02-20T09:59:09.289-08:00Anotações 6 - Avisar pelo jornal que se vai fazer a Nau Catarineta, os interessados que se apresentem...<span style="FONT-WEIGHT: bold">Chico:</span><br /><br />Minhas idéias de teatro são pobríssimas. Um prédio. Uma peça. Quero me associar às pessoas que querem fazer.<br /><br /><p>Tenho uma idéia vaga do cenário: Uma corda, um cabo grosso que saísse do teto, do infinito e se desmanchasse num rolo. Uns barris. Um ambiente sombrio, mas preciso. Dar uma idéia de navio e também uma de interior. Penso também em outros elementos: Escrever no chão do galpão, fazer umas aparições. Fazer um espetáculo parado.</p><ul><br /><li>Sistema de iluminação: No sentido de se dar um certo balanço de Nau. Grupo de holofotes apagando-se alternadamente nas laterais. Os do meio ficando sempre acesos.</li><br /><li>A partir das pessoas que se reunissem para fazer essa peça, pensaríamos na possibilidade de se fazer uma entidade (a Cooperarte). </li><br /><li>Para fazer os 3 médicos, ensaiaríamos primeiro, diversas situações sem o texto, com a finalidade precisa de se saber uma coleção de gestos a serem depois usados com o texto: a barbearia, o padre.<br /></li><br /><li><span style="FONT-WEIGHT: bold">Como continuar? </span>Para os próximos cursos: Monitor, Bolsa de trabalho, Estágio.</li><br /><li>Quero montar a Nau Catarineta, do Altimar Pimentel. É uma esperança. A peça é um auto-de-espera. O Alexandre, o Dod, eu Chico, o Altimar se reúnem inicialmente. Depois avisam pelo jornal e todas pessoas que se interessem pela idéia se apresentam. </li><br /><li>Quem se emocionar com a possibilidade de apresentar uma peça pulsante, bonita, se apresenta e depois continua. Estou encantado com a possibilidade de se fazer um espetáculo bonito. </li></ul>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-72220872441979002692008-11-23T18:19:00.000-08:002008-11-23T18:47:09.227-08:00Anotações 05 - Colocar em cena o livro do qual a peça foi erguida...<span style="font-weight: bold;">Antes da apresentação dos 3 médicos<br /><br />Chico: </span>É o seguinte, o André atrapalhou a peça dura muito tempo. Agora é a Ana. Há também os que não aparecem. Esses não se comprometem.<br />Precisamos liberar o texto. Liberar o espetáculo.<br />É preciso colocar em cena o livro do qual a peça foi erguida. É preciso a presença de alguém lendo. Quem lê está fazendo a celebração do espetáculo. O livro do qual a peça foi erguida... <span style="font-weight: bold;"><br />- É um livro?<br />Chico: </span>Você duvida? Duvida que é letra de livro? <span style="font-weight: bold;"><br />- </span>É de máquina. <span style="font-weight: bold;"><br />Chico: </span>Veja então as páginas numeradas.<span style="font-weight: bold;"><br />- Pode ser uma revista.<br />Chico: </span>Você já viu uma revista de 250 páginas?<span style="font-weight: bold;"><br />- Já.<br />Chico: Revista médica, científica?<br />- </span>Catálogo.<span style="font-weight: bold;"><br />Chico: E você já viu uma peça num catálogo?<br />- </span>Não.<span style="font-weight: bold;"><br />Chico: </span>Então não há dúvida. Essa peça tá num livro. <span style="font-weight: bold;"><br />- Quem lê não representa?<br />Chico: </span>Representa. Representa o papel de ler. Uma idéia: Podemos ser cartazes vivos. Mas não sejamos a grama. Nem atrapalhamos a ordem. As iniciativas que tomamos devem combinar coletivamente. Fazer a peça com os atores carregando e descarregando um caminhão de coca-cola. Moral: Enquanto vocês trocam frases de emoção a Coca-Cola faz distribuição.<span style="font-weight: bold;"></span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-39934019524303379302008-11-21T09:10:00.000-08:002008-11-22T07:05:35.357-08:00Anotaçãoes 4 - Inventar o gesto e, depois, dar o sentido<span style="color: rgb(0, 0, 153);"><strong>Segundo semestre de 1976</strong></span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);"><strong>Texto sem marcação de dia e mês</strong></span><br /><br />Precisamos passar a descobrir os gestos escondidos. Eles são mais ricos, mais precisos. Descobrimos e incorporamos. Estou muito alucinado?<br /><br />O que temos feito é inventar o gesto, e depois querer dar o sentido. Então, qualquer gesto regula as frases da vida. Mas o caminho é descobrir os gestos que já tem sentido e usá-los.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Ser Sepulto</span> - A única marcação era os atores conversando com a platéia.<br /><br /><ul><li>Vou confessar: Só vou conseguir fazer teatro do jeito que estou pensando se conseguir a credibilidade de vocês. Tenho umas crendices contra as quais vocês lutam: ler a cultura brasileira; os costumes; as tigelas...<br /><br />As inconsciências para mim, eu vejo na cara. Aí eu vou e destruo. Isto aqui é uma cartase para mim. Senão eu morro. Preciso disso.<br /><span style="font-weight: bold;">A apresentação/ensaio</span> que fizemos dos 3 médicos representou uma vergonha para a casa. O que a gente faz para acalmar isso?<br />O vice-reitor viu. E ficou legalizado. Se se está inocente.<br />Não pode continuar assim, esses pássaros inocentes. É preciso sujar as asas. O convite aí fora é o da ordem, da clareza. Nas para existir essa ordem é preciso que ela seja perturbada para ser novamente restaurada.<span style="font-weight: bold;"> </span>Quando as coisas estão congelando têm que assustar.<span style="font-weight: bold;"> As lições que tiramos da apresentação que fizemos:</span></li><li>Podemos fazer teatro.</li><li>Só se soube que fez teatro depois da apresentação.</li><li>O que diferencia o ensaio do espetáculo é a presença do público.</li><li>Ficou bem claro que o público dirige o espetáculo.</li><li>Durante todo o tempo passamos teimando com as coisas que fazíam.</li><li>Partimos de uma idéia arbitrária: Decorar o texto. Depois passamos a ser mais espontâneos.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Coisas que podemos pensar para o curso do próximo semestre</span> </li><li>Monitoria, bolsa de trabalho, estágio. </li></ul><p style="font-weight: bold;">Para agora:</p><ul><li>Formar um grupo para montar Nau Catarineta. Peça cantada na base de coros. Quero fazer um espetáculo bonito. Inquebrável. Mas transparente, como se fosse de vidro. A estrutura do galpão se presta a dar idéia de uma Nau. O teatro escuro, só uma réstia de luz. Transar uma de cheiros, incensos. Um espetáculo: Azul/Matreiro /Que dê calafrio /Pausado </li><li>Fazer uma coisa diferente das irresponsabilidades que existem por aí. Fazer com trabalho. Quero fazer também uma ópera nordestina. Mas isso é outra conversa. </li></ul>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-6967270671154060442008-11-21T02:37:00.000-08:002008-11-21T02:44:35.457-08:00Anotações 3 - Aconteceu e o incessante continua...<span style="font-weight: bold;">Segundo semestre de 1976</span><br /><span style="font-weight: bold;">Texto sem marcação de dia e mês</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico - </span> Alguem já disse: Não sou teórico das coisas que eu faço. Minha teoria é não ter teoria. Sou uma ordenada, sistemática, racional. As coisas mudam quando eu aqui chego, e mudam também pra obra da minha ausência.<br /> <br /><ul><li>Havia, há aqui, um convite para se fazer as coisas sem pensar. Ninguém ta disposto a conversar.</li><li>O discurso agora é violento, imposto. Há o abandono da persuasão. Não há também vontade de cooperação.</li><li>A gente passa a vida toda elogiando nos bons jogadores, mas eu também sou um bom jogador. Bons jogadores quando atuam são capazes de mudar as coisas positivamente. Porque as mudanças que ocorrem quando eu chego têm que ser necessariamente negativas?<br /></li><li>A peça aconteceu. Aconteceu no meio de outras. E o incessante continua. Não sei o que é estar consciente, o que é inconsciente. O que eu vejo: A história, a ciência me diz, que há coisas que acontecem no estado de consciência e outras num estado de prontidão para as coisas.<br /></li></ul><br /><span style="font-weight: bold;">Gustavo dá uma gargalhada</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico</span> - Quando não gosto, gozo, brinco, depredo. Eu queria escandalizar um pouco mais. Eu realmente sou inteligente, pessoa de qualidades excepcionais. Meus palpites não são aceitos. Os palpites de Rui Guerra são aceitos, e é uma pessoa menor que eu. Sou humilde, simples. E acho a modéstia uma doença. Sou uma personalidade asfixiante até certo ponto.<br />Já fiz vários testes, eu sou uma personalidade excepcional. Sou um indivíduo extremamente crítico. Muitas coisas que eu tento fazer, não consigo. Há uma intranqüilidade para se dar opiniões. Tenho uma solidão horrível para se conversar. Acho o Daniel excepcional. Às vezes tenho inveja da inteligência dele. A inteligência tá no rol das coisas observadas. Aqui, nunca minha opinião venceu. Elas foram derrotadas. Por outras opiniões.<br /><br /><ul><li>Para Lenine, a prática é o critério geral da verdade. Quando eu digo isso, estou pensando no caminho percorrido por ele para concluir isso. Lenine ta dizendo com isso: Agora viva. Ele trabalhava pensando. Gostava de pensar. </li><li>O que é a inteligência? É trabalhar no mundo. É se transformar. </li><li>Falar sobre teatro a partir das inexperiências mesmas. Subterfúgio em teatro (uma ação para si só ou para os expectadores): Coincide com as coisas que eu não consegui dizer. </li><li>O teatro vai provar que é bom não aos expectadores, mas na cultura onde foi realizado, celebrado. </li><li>A falta de teatro vai despreparando as pessoas para o teatro. Teatro é uma coisa reconhecida como teatro. O teatro grego, eu confio, está depositado no nosso teatro. </li><li>Faço teatro para mim e os outros são os meus semelhantes. Fazer uma coisa como se fosse para mim, julgando que esse é o melhor modo de fazer para os outros. <span style="font-weight: bold;">Aprender fazer fazendo. </span><br /></li></ul>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-56303005787827929762008-11-21T02:29:00.000-08:002008-11-21T09:21:53.305-08:00Anotações 2 - Trabalhar com muitas idéias ao mesmo tempo...<span style="FONT-WEIGHT: bold"></span><span style="FONT-WEIGHT: bold; COLOR: rgb(0,0,153)">Segundo semestre de 1976</span><br /><span style="FONT-WEIGHT: bold; COLOR: rgb(0,0,153)">Texto sem marcação de dia e mês</span><br /><br /><span style="FONT-WEIGHT: bold">Objeto </span><br />Muitas opiniões.<br />Depois a escolha.<br /><br /><ul><li>Inevitavelmente temos muitas opiniões sobre uma mesma coisa. Mas desgraçadamente temos que sempre escolher uma única e seguir o caminho. Por isso as pessoas se casam, não é?!</li><li>Se numa mesma casa vemos duas geladeiras, primeiro perguntamos por quê? Depois, qual a melhor? </li><li>Por que não trabalhamos com muitas idéias ao mesmo tempo? Com vários objetivos?</li><li>Por que nos proibir isso?<br /></li></ul>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-72179496268600434312008-11-20T18:11:00.000-08:002008-11-21T02:45:24.330-08:00Anotações 1 - Em quantos dias se coloca uma peça de pé?<span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 153);">Segundo semestre de 1976<br /></span><span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 153);">Texto sem marcação de dia e mês </span><br /><span style="font-weight: bold;"><br />Chico -</span> Vamos conversar? Mas conversar para tomar consciência. Isso é incômodo, eu sei. Este é um curso que deve fazer umas transformações em nós. Estabelecer certas perspectivas.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos - </span>Tenho impressão de que o tempo está ficando pouco para o que queremos fazer.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico - </span>Eu monto Shakespeare em 26 dias.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Antônio - </span>Eu acho que temos tempo que dá.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico - </span> Temos curtido um pouco a coleção infinita de sugestões que somos capazes de dar. Podemos agora congelar um pouco tudo isso.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos - </span> Eu tenho uns conceitos que...<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico </span>Devemos abandonar estes conceitos que atrapalham a gente. A quem interessa que seja difícil apresentar uma peça? A mim particularmente, me interessa que seja fácil, que se rompa a inércia. A quem interessou não termos sido capazes de apresentar a peça infantil, os 3 médicos? A quem interessou? Eu tô afim de acabar com essa farsa. Provamos que não faríamos as peças. Fizemos uma greve. E como a greve é uma coisa abusada, eu aprovo.<br />Para o dia 26 se eu quiser eu faço: A peça infantil, Os 3 médicos, um musical.<br />Eu quero entrar nesse arraial onde se faz a arte brasileira. Quero ser operário nessa construção. O engano está sendo fabricado. Por que não fazemos este teatro de assalto?<br />Vocês não fizeram ainda nenhum exercício que os comovessem a ponto de alterar o próprio modo de vida. Eu fiz o Ser Sepulto, e isso não é uma coisa trivial.<br />Para montar a peça temos que combinar umas regras. E perguntar se algum ponto da peça ficou ressaltado.<br />Nessa peça nós destacamos a frase:<br />“<span style="font-weight: bold;">O ASSASSINATO TAMBÉM TEM LIMITES E NO ENTANTO TODOS OS DIAS ASSASSINAM-SE HOMENS”</span>.<br />Ouvindo essa frase as pessoas lembram-se do padre que foi assassinado (Burneer), e isso é dar uma interpretação ao texto.<br />Tem muita imoralidade também pra ser detectada. É imoralidade o que tá fora da moral vigente. Fora da cartilha do viver. A vida taí andando. E a gente não pode demorar tanto pra fazer as coisas. No dia que JK morreu eu ensaiava o Ser Sepulto. Mas quando a peça foi apresentada já fazia tempo que JK tinha morrido. E o pessoal ao assistir a peça tava lembrando era de outra morte, a do padre lá de Mato Grosso.<br />Então, por que não fazemos uma apresentação dos 3 médicos, no dia 13, último dia da Expoarte?<br />A gente explica pro pessoal que não é uma peça acabada. É como se fosse um ensaio com o público. Vamos ouvir as pessoas que têm resistência a essas idéias.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> Não gosto da idéia de apresentar na Expoarte. Não to afim de assumir isso.<br />Chico: Outras resistências e sobre, por exemplo, ter o texto da peça presente em cena:<br /><ul><li>Acho que vai perder o ritmo visual.</li><li> Prejudica a ilusão que o teatro provoca o público. </li><li>Perde o caráter do teatro.</li><li>Perde a vibração.</li><li> É chato.</li><li>Tenho dúvida se um ator pode ler e representar ao mesmo tempo.</li><li> Acho que poder pode, mas é difícil.</li><li>Acho que todo mundo pode, marcando um prazo, trazer o texto decorado.<br /></li></ul>Tenho que reconhecer que levo mais jeito de diretor que vocês todos juntos. Tenho crises de idéias. Também quero dizer que trabalhar coletivamente é apenas uma forma de se trabalhar.<br />É preciso não esquecer também de, ao se ler a peça, pensar em missas, corais, canto lírico, orquestras, bandas desfilando, procissões, testamentos de Judas, leilões.<br />As palavras da peça não são entendidas de imediato. Vamos romper um acordo instituídos na arte, o de que se deve saber o texto decorado.<br />Uma sugestão: Quem lê não contracena. A peça se passa então, em dois níveis: o da leitura e o da representação. Isso é uma coisa norueguesa quase. Escocesa de tão bonita. Distante. Se a gente coloca distante de nós acha bonito, não é?<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos - </span> Continuo contra a idéia de se ler o texto em cena.<br /><span style="font-weight: bold;">Chico - </span>Você continua porque tem o coração mais duro que o chão que você pisa. Uma peça de teatro quer seja visível ou não, tem sempre um livro em cena que está sendo lido. Imaginem: A cena escura. Apenas uma vela, uma lanterna, nas mãos da pessoa que diz: <span style="font-weight: bold;">Os assassinatos também têm limites... </span>e ela ou outra pessoa passa a lanterna nas pessoas que estão na platéia. Penso numas ligaduras para cada início de cena, como em TV. E também num jogo de futebol em BG, durante toda a peça. Ter um cenário que deixa uma vastidão de espaço, de abismo. A cena se passa num canto e fica um palco inútil.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Um desafio:</span> Tentar ganhar sem prometer apenas. Pegar as energias que se tem a transformar as coisas no tom que se quer. Você ganha amizade só se prometendo pra amizade. Se você fantasia a amizade, você está alterando o texto da amizade. Extrair o que permanece de atuar no texto. E não injetar coisas, tentando dar colorido por não acreditar que alguma coisa do texto permaneça. Ver o que atravessou estes 140 anos, e permanecer vivo. Como esta frase: Os assassinatos também têm limite...<br />Procedimento de pensar: Em vez de aplicar coisas na peça, ver as coisas que vem de dentro da peça. Tecer o abismo, não geograficamente mas com o tom de voz.<br />As roupas: Não devem alterar muito como a gente está agora, porque desde que a peça foi escrita não se alterou muito o nosso jeito de ser.<br />O cenário: Não é composto de coisas reais, mas de pontos de vista. Não é uma coisa, mas uma aparência.Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-87144784802204483232008-11-20T17:59:00.000-08:002008-11-21T02:26:04.744-08:00À procura do ritmo...<span style="font-weight: bold;"><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Texto sem marcação de dia e mês</span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Segundo semestre de 1976</span><br /><br />Chico,</span><br /><span style="font-style: italic;">As pessoas estão acostumadas ao atropelo. A fazer tudo certinho e depressa pra não perder tempo. Dão um ritmo à vida que não é o da vida. Riem só um pouquinho, ficam logo sérios. Depois duma frase, duma fala não pode haver o silêncio, tem que haver outra fala, uma enxurrada. Até pela pessoa que se ama, choram só um pouquinho, é bom que nos recuperemos logo. </span><br /><span style="font-style: italic;">Penso que podemos fazer os 3 médicos num ritmo (o da vida) ou num outro (o que as pessoas emprestam à vida).</span><br /><span style="font-style: italic;">Se fizermos no ritmo da vida, será um teatro que pode ser pausado. As pessoas riem e a risada fica ainda um pouquinho no ar, como um eco. Se fazem um gesto, o gesto deve existir o tempo necessário pras pessoas registrá-lo, fotografá-lo. </span><br /><span style="font-style: italic;">Nada do que acontecer na peça, deve ou pode passar despercebido das pessoas que a assistem, a não ser que esta seja nossa intenção. </span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;">Clara Lúcia<br />Texto sem data<br /></span></span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-39742054596637880792008-11-20T17:55:00.000-08:002008-11-21T02:28:04.808-08:00Enxergar melhor só com a lembrança de que um dia houve mais luz.<span style="font-weight: bold;"><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Segundo semestre de 1976</span></span><br /><span style="font-weight: bold;"><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Texto sem marcação de dia e mês</span><br /><br />Chico na janela do apartamento do Dod:</span><br /><br />Aquela escola ali é tão feia, a coisa mais feia do mundo. E aquele gramado – uma faixa de grama outra calçada. Um de grama, uma de calçada. Parece o bem e o mal. Os meninos maus são os que pisam na grama.<br />Sou contra isso, clara. Sou contra universidade, contra família, contra pai. Sou contra as pessoas se reunirem pra esquecer os próprios pecados. Sou contra essa preocupação atual de se fugir do pecado. Hoje o pecado não é pecar, é a preocupação incessante de se fugir do pecado.<br />Acredito que há pessoas que a função delas é ser velas. Se queimar, iluminando outras pessoas. E ninguém percebe isso, só quando a vela se acaba. Aí alguém diz: parece que tava mais clarinho aqui, antes tava se enxergando melhor... e recomeçam a enxergar melhor só com a lembrança de que um dia houve mais luz.<br /><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;">Sem anotação de data</span></span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-58484699439541164452008-11-20T17:23:00.001-08:002008-11-21T02:23:31.022-08:00As dificuldades do fazer existem. Mas existem também as facilidades.Vamos nos guiar pelas facilidades...<span style="font-weight: bold;">Segunda-feira, 01/11/1976<br /><br /></span><span><span style="font-weight: bold;">Carlos</span> - Vamos aproveitar que o Chico ainda não veio e conversar pra saber como todo mundo aqui ta vendo os 3 médicos. Vamos conversar, discutir sem a presença do Chico Pontes...<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara - </span>Duvido que a gente consiga isso.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> Duvida o que?<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara -</span> Discutir sem a presença do Chico.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> Eu consigo e muito, não tenho culpa se você não consegue.<br /><br />Clara - Você ta muito apressando em dizer as coisas. E me responde pensando que entendeu o que eu disse.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> O que você quis dizer?<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara - </span>Que a gente não consegue discutir sem a presença do Chico. Prova disso é que você convidou todo mundo a conversar sem a presença dele. Ele não tava presente, mas você colocou ele num canto. Então ele tava presente.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> Vamos conversar?<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara - </span>Vou anotar essa nossa conversa.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> Esse negócio de anotar conversa parece coisa da Polícia Federal.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Gustavo</span> - Coisa dos homens.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara</span> - Por falar nisso Carlos, é bom você ter cuidado. Tenho um depoimento meu todinho anotado aqui no meu caderno.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos</span> - Eu acho que os atores, acho que nós, principalmente o Augusto, não tamos conseguindo fazer um personagem. Tamos sendo muito nós mesmos.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara </span>- Acho que se a gente se preocupar muito em fazer um personagem, se preocupar muito em ser diferente de nós mesmos vamos nos atrapalhar. Não vejo mal do personagem se parecer com a gente mesmo. Acho que a gente pode misturar as coisas. Não se preocupar em se desligar completamente do que nós somos e ser só o personagem. Primeiro porque é muito difícil. Acho que pelos menos no início isto é muito difícil.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> Acho que isso que você falou é um erro primário em teatro: escolher um ator porque ele se parece com o personagem.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Gustavo -</span> Quando eu tô fazendo o Lino eu lembro daquele teatro de Pirenópolis que o Chico falou. Então eu tô fazendo como num teatro de Pirenópolis.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara</span> - Eu acho que o Gustavo se parece com Pirenópolis.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Antônio</span> - O Lino é um personagem muito importante na peça. Ele é o apresentador dos personagens. Deve aparecer em cena como se esperasse convidados.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Márcia</span> - Eu tô querendo saber mais sobre os tipos dos 3 médicos. Tô notando que o Arão quer fazer o Cautério um tipo assim sério, cheio de maneiras. Mas ele começa fazer assim depois se esquece de continuar.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Antônio </span>- É que o Cautério representa ele mesmo um tipo. Como nem toda hora ele consegue ser serião, ele às vezes derrapa. Na verdade ele não é o que quer parecer ser, por isso às vezes ele não consegue continuar fazendo um gênero o tempo todo.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos -</span> O João me disse que tava com dificuldades de fazer a cena com o Gustavo porque o Gustavo não ajuda. Não olha pra ele, não presta atenção no que ele fala.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara</span> - Acho que isso não pode estar prejudicando o João porque nesta cena provavelmente o Antônio estará lendo o texto e não vai desgrudar o olho do papel. O João tem que aprender a se virar sozinho. O Gustavo vai estar lá e não vai ao mesmo tempo porque ficará lendo.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Antônio</span> - Agora não tô entendendo a da Ana. Aqui com a gente ela é toda extrovertida, abraça, beija todo mundo e lá na hora de fazer a cena com o Carlos fica toda encabulada.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Márcia</span> - A Ana não tá conseguindo levar a extroversão dela pro palco. Ana, você é extrovertida com seus namorados?<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Ana </span>- Eu não tô vendo esse problema aí que vocês tão vendo. Acho que não tô conseguindo fazer direito a Rosinha porque eu não sei as falas dela de cor e nem como ela deve se comportar. Não sei se devo fazer ela alegre, expansiva ou quietinha.<br /><br />Antônio - Acho que vocês devem fazer essa cena do Miléssimo e Rosinha em câmara lenta. Muitas vezes. Pra ficar os gestos e poder repetir.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Carlos </span>- Quem deve cuidar dos gestos é também o Gustavo. Toda vez que ele fala vai ficando... Vai ficando... Na ponta dos pés. Acho que ele tem que acabar com isso.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Daniel</span> - Acho não. Isso é legal.<br />(Daniel vai embora).<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Márcia </span>- Acho que o Luis tá fazendo, tá falando muito preocupado com as pessoas que estão assistindo.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Felipe</span> - É que eu fico um pouco nervoso, preocupado.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">André </span>- Tem que se esquecer que as pessoas que tão assistindo existem.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Clara - </span>Não acho isso não.<br /><br />Carlos - Tem que se desligar das pessoas em volta como o Grotowiski fala.<br />(O Chico chega)<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Márcia</span> - Felipe acho que muita coisa se resolveria se você fosse capaz de dizer uns três palavrões pra nós aqui quando tivesse raiva.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico - </span>Parece engraçado mas a Márcia tem razão. Temos que ter um modo de encarar a vida e despejar isso no texto. Se a gente não tem coragem de na vida dizer um palavrão, não temos também de dizer quando fazemos teatro. Por isso quando o Miguel (Felipe) xinga o Lino, não convence.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Felipe</span> - (diz um palavrão)<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico</span> - Assim baixinho não vale. Tem que ser igual o Arão que me xingou de facista e sacana bem alto e tudo ficou por isso mesmo.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">André - </span> Em vez de palavrões as pessoas podiam se xingar na peça usando nomes de doenças.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Felipe </span>- Acho que com o tempo eu vou superar isso.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico -</span> Assim falando desse jeito não vai conseguir não. Tá parecendo linguagem de memorando com data-vênia e tudo. Tenho umas coisas aqui anotadas, umas preocupações minhas que vou ler pra vocês:<br /></span><ul><li><span>Devemos ter cuidado com a pronúncia das palavras. A pronúncia ta muito falsa. As pessoas que assistem não está entendendo o que se está dizendo.</span></li><li> Não podemos atropelar as falas uns dos outros. Precisam deixar as falar repousarem, agirem. Quando fizermos a recuperação de uma fala, essa recuperação deve ser feita com um propósito.<br /></li><li>Deve haver uma pessoa lendo o texto todo o tempo. </li><li>Assimilar o gesto um dos outros. Ficar numa do personagem em cena deixar uns vazios, uns abismos, sensação grega, vai lá grego-romana. Ter noção do território do palco. Da gravitação. </li><li>Preocupação: A quem vai dizer as falas? A outro ator? Às pessoas da platéia? </li><li>A intenção de cada frase. Onde começa a intenção e onde ela termina. Há uma intenção geral: Ela é clara, só não é claro o que você diz e há várias sub-intenções. </li><li>Misturar a vida com o teatro pra poder depois fazer as distinções. Misturar um pouco a nossa vida com o que vamos fazer e depois separar. O teatro tem uma função: a da gente rever as coisas , aliás é pra isso que o teatro foi feito. Por isso algumas intimidades não nos deve intimidar, tô referindo aqui à cena da Rosinha e Miléssimo. </li><li>Acho que a gente ta fazendo coisas só na base da simpatia. Sejamos francos quem aqui faria o General Franco? Ou Silvério dos Reis? Quem teria coragem de arranjar gestos pra fazer um pústula? E fazer bem, sem ser caricato, sem gozação? É preciso consciência pra poder separar as coisas, fazer bem o Silvério dos Reis: Se você tiverrejeições a umas práticas e se você não tiver consciência dessas rejeições não vai fazer determinados personagens, não dançará capoeira, não fará muitas outras coisas. </li><li>Como observador notei que o nosso processo está sendo visitado por essas dificuldades. Estamos confundindo teatro com a vida .Estamos encabulados de ser os personagens que devemos ser. Queremos fazer um personagem simpático, que podemos entrar com ele em casa </li><li>No momento somos umas pessoas um pouco artistas transfiguradoras. Vamos assumir esta posição.</li><li>Os artistas vivem e representam a vida. (Há uma separação). Está um pouco confuso em nós: O que é teatro e o que não é teatro. O que somos e o que não somos. </li><li>Na cena da Rosinha e do Miléssimo precisamos descobrir qual é a da cena pra poder sustentar o equívoco. Quando a Rosinha arrasta Miléssimo (imprensa e mostra uma situação que é eterna). Uma situação que tá contada nas músicas populares. Ouvir Chico Buarque, Caetano Veloso. Tá contada nos romances. Nas gravuras. Ta tudo aí. A gente inventa, inventa e vai ver tudo já ta contado. Precisamos fazer o ápice desta questão.</li><li>As dificuldades do fazer existem. Mas existem também as facilidades, Vamos nos guiar pelas facilidades.<br /></li></ul>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-56301200889710106502008-11-11T18:01:00.000-08:002008-11-11T18:37:37.483-08:00Que as pessoas brincassem e vissem a face delas brincando...<span style="font-weight: bold;">Domingo, 31/10/76 </span><br /><br /><span style="font-weight: bold;"> Transcrição da fita apresentada em aula no dia. </span><br /><br /><span style="font-weight: bold;"> Chico:</span> Eutinha pensado em programar essas coisas. Quer dizer, de organizar o curso de uma forma que ela resolvesse uma série de coisas que eu pensava sobre teatro. Então, eu aceitei fazer esse curso assim sem muito tempo de planejá-lo, mesmo porque eu não acredito que a gente faça um planejamento anterior nessas coisas e tente realizar de acordo com o planejamento.<br /><br />Ao planejar o curso pensei aproveitar uma certa um certo número de idéias que eu tinha sobre teatro e tenho, pelo fato de conviver com essa coisa e de tentar fazer e de não conseguir me afastar muito disso. Eu estou envolvido com o processo de teatro. Então, a idéia do curso é uma Oficina Básica de Teatro e Dança. Se fosse um curso seria de Licenciatura em Desenho e Arte Plástica ou de educação Artística. Quer dizer então, o curso tem um compromisso com a cultura brasileira, já que tem um compromisso com a educação esse outro compromisso também fica mais reforçado.<br /><br />A idéia que eu tinha, que eu tenho, que me animou pra fazer esse curso era que: acho que o Teatro Brasileiro não tem qualquer coisa que pudesse se chamar de vocabulário gestual. Quer dizer, o jogo das marcações, o jogo da dança no teatro, o jogo da verticalização, toda verticalização, toda aquela parte do teatro que é após o texto, ela é muito apreendida em práticas internacionais, métodos e técnicas de teatro que de uma forma ou de outra chegaram aqui e que são importadas: Qualquer coisa do teatro francês, do teatro alemão, do teatro inglês, do teatro americano. É qualquer coisa de Stanilawiski, de Grotowiski, de Brecht e arremedos dessas coisas. Então é uma preocupação com o fantasiar a voz, por exemplo. A voz, então, tem aquelas coisas de califasia, de caliritmia, de entonação, de impostação. Quer dizer, a alteração do jeito de falar começa por aí. Também as posturas, aquele negócio de ter noção do meio do palca, da direita baixa, centro, essas coisas... Uma certa gravitação no palco que não é extraída da vida brasileira, mas aproveitamento de desenhos surgidos em outras culturas. Quer dizer, desenhos de marcações de outras culturas, que atendem a outros interesses, que atendem a outras técnicas, que atende a outros fazeres artísticos.<br /><br />O teatro brasileiro me pareceu sempre, nesse processo de verticalização, um aimitação dos processos de fazer teatro em outros locais. Isso, sem dúvida, serviu muito aqui no sentido de ter possibilitado a existência de espetáculos de teatro, a criação de atores, a formação de público. Mas , ao mesmo tempo que isso foi criado, foi criado distante das raízes nacionais, das raízes brasileiras.<br /><br />Acho que o povo brasileiro não se vê no teatro brasileiro. Isso é uma idéia geral assim que eu tenho. E que, aqui, não tô conseguindo dizer claramente porque essas coisas não estão claras na minha cabeça. É só um mal estar que eu tenho quanto a essa parte. Outra coisa é também os textos. Essa dramaturgia, por conseqüência , todos esses textos existentes são feitos em gabinetes isoladamente. Indivíduos que criaram peças, tramas, desligadas da realidade brasileira, desligadas dos problemas brasileiros, da cultura brasileira, desliagadas do cancioneiro brasileiro, desligadas do romanceiro nacional. São tramas e peças, enredos, argumentos que são importados também. São uma caixa de efeito.<br /><br />O que a gente pode dizer é que o teatro brasileiro é uma caixa de efeitos, uma caixa de segredos, uma carpintaria de prender a atenção. Isso também está nos cenários. Tá na própria forma do teatro. Nós temos palcos italianos, essa coisa toda. Acho que outros setores da arte, outros modos de fazer artísticos estão um pouco mais nacionais, um pouco mais brasileiros. São um pouco mais espelhos da nossa realidade. São objetos realmente da decifração da nossa realidade, da transformação da nossa realidade. São momentos em que há um convite pra alma brasileira se reconhecer diante da arte brasileira. Acho que o teatro é uma coisa distante desse aspecto aí.<br /><br />São essas as inquietações que eu tenho e que (explicam porque) aceitei fazer o curso... Pensei que podia se aproximar o teatro brasileiro por exemplo do futebol. Quer dizer, a dança do futebol, daquele jogo de participação que há, daquela cooperatividade, associatividade que há no jogo de futebol, ao mesmo tempo que há uma certa disputa, jogos de malícia. Uma coisa decidida na hora. Um um certo improviso de ações. Um certo comungar sem combinar. Quer dizer, uma coisa decidida com olhos. Isso o nosso teatro não tem. Isso o futebol tem e é uma prática brasileira, é um modo brasileiro e há uma malícia, uma malandragem. Então, essa aproximação, eu acho que ela é importante para, para o teatro brasileiro. E está longe essa coisa de qualquer autor brasileiro ter comentado isso alguma vez, de algum teórico brasileiro ter dito isso , ter falado nisso, o que para mim é estranho.<br /><br />E aí a gente pode ver também que o carnaval tem muita coisa a dar para nosso teatro. Tem outros momentos aí em que há realmente rituais, há cerimônias e há teatro. Esse teatro espontâneo não está no teatro brasileiro. Nem também esse mais elaborado: o folclore. Quer dizer, as festas populares. Essas multifacetas aí da cultura brasileira. O teatro tem uma visão opaca pra essas coisas. Então, eu pensei que as pessoas poderim brincar, um grupo de pessoas poderia brincar um certo, brincar um futebol, jogar um jogo de futebol. Elas fariam uma tremenda expressão corporal. Elas desenvolveriam um forte sentido de cooperativismo, de associatividade e naquele ambiente de futebol fariam surgir emoções reais em funções de coisas concretas em que não há interesses particulares, há um interesse geral.<br /><br />As pessoas durante um jogo revelam, revelam muitos sentimentos, revelam muitas emoções. Simplesmente essas emoções aparecem pelo jogo e não há nenhum compromisso, nenhum interesse. Então, desligadas de compromissos, de interesses, as pessoas fazem brotar esses sentimentos, é uma criação coletiva realmente. Então, as pessoas interessadas em aproveitar isso, jogariam um futebol várias vezes e veriam que tipo de emoção, que tipo de associatividade, como é que elas se mostram ao jogar e recolhem essas emoções e poderiam com elas trabalhar, teatralizá-las, dramatizá-las, torná-las evidentes, fazer uma outra combinação com elas e tudo mais.<br /><br />Tentar então, levar essas emoções e impostar-lhe um texto. Quer dizer, verticalizar um texto a partir dessas emoções brotadas num jogo, por exemplo, era a experiência que me alimentava aí, quando eu pensei em organizar essa Oficina de Teatro e Dança aqui na UNB. Mas isso não foi possível porque a época do ano é muito seca, um calor danado e então, a aula de quatro as seis não dava pra fazer. É um projeto demasiado arrojado pra um individuo levar à frente. Então, suprimi isso e fiz alguma coisa bem menor, mas dentro dessa direção: que as pessoas brincassem e extraíssem dessa brincadeira alguma... vissem a face delas brincando. A face delas num jogo. E recolhessem isso. Então, foi com essa idéia que fizemos um texto e montamos. Depois nós montamos um texto que tem, que guarda proximidade com o que foi feito ali, no espontâneo, no autêntico. E isso foi muito difícil de fazer porque ninguém tá acostumado a trabalhar desse modo. Mas é só uma dificuldade que quando a gente supera, resolve... E então?... Opa!...<br /><br />Naturalmente, eu dei uma ancorada aqui no teatro brasileiro e deixei ver que há algumas exceções. Quer dizer, tem algumas peças vigorosas e tem algumas pessoas que tentam essa recuperação dos valores nacionais, da identificação do teatro com a arte brasileira. Mas são exceções. São coisas muito pequenas, não dá pra ver. Então completamente afogadas. Então quem ancora não dá pra ver isso.Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-51643841478828542992008-11-11T17:58:00.000-08:002008-11-11T18:01:41.696-08:00Grudar a intenção na fala...<span style="font-weight: bold;">Sexta-feira, 29-10-76 </span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Cena da Rosinha falando: </span>Ela deve falar falsamente. Grudar a intenção nas falas.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Cena XIII:</span> Aparece o Pelé.<br /><span style="font-weight: bold;">Cena XIV:</span> Aparece o Mequinho.<br /><span style="font-weight: bold;">Cena XV: </span>Aparece o Fittipalti. Por quê? Porque tratar doente com água é igual correr com o Copersucar.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Um ideal:</span> Que as pessoas entendam as falas. Obedecer exatamente o que está no texto.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Expor o processo de fazer:</span> Os atores de uma peça sabem a peça toda. O público sabe que os atores sabem. Não faz mal que um ator tropece e o outro o ajude. É interessante que em cada cena um dos personagens esteja com o texto na mão. A presença do texto, em cena, tranqüiliza e estabelece a verdade que é a de que os atores já sabem a peça.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Movimentar a cena:</span> O gesto sai naturalmente. O difícil é você conter o gesto. Fazer a cena com outras pessoas. Uns assimilam os gestos dos outros, isto é entrar na que ele disse. Arranjar uma para poder responder. Estabelecer o intervalo entre as falas. Colocar uma intenção em cada fala. Comunicar ao público de uma maneira clara, a intenção de casa cena. Quando a gente não sabe a entonação não deve colocar nenhuma.Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-39091237325705272212008-11-11T17:54:00.000-08:002008-11-11T17:55:58.304-08:00Se não tomarmos cuidado, os erros grudam na gente...<span style="font-weight: bold;">Quinta-feira, 28/10/1976</span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-56207784255924987732008-11-11T17:47:00.002-08:002008-11-11T17:54:35.278-08:00Ainda sem anotações encontradas...<span style="font-weight: bold;">Quarta-feira, 27/10/1976</span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-26694064777163931432008-11-11T17:47:00.001-08:002008-11-11T17:47:48.200-08:00Ainda sem anotações encontradas...<span style="font-weight: bold;">Terça-feira, 26/10/1976</span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-35850570989711454632008-11-11T17:46:00.000-08:002008-11-11T17:47:12.940-08:00Ainda sem anotações encontradas...Segunda-feira, 25/10/1976Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-78118120715465471912008-11-11T17:43:00.000-08:002008-11-11T17:46:23.053-08:00Não houve aula, nem ensaio...<span style="font-weight: bold;">Sexta-feira, 22/10/2006<br /><br /></span>Os atores preferiram assistir a um ensaio de um show musical. <span style="font-weight: bold;"><br /></span>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-89277648926980245952008-11-10T10:37:00.000-08:002008-11-11T17:42:35.872-08:00Montar a peça como se fosse novela....<span style="font-weight: bold;">Quarta-feira, 20/10/1976<br /><br />Informações para se contextualizar a peça:<br /></span><br /><ul><li><span style="font-size:85%;">Reminiscências das viagens e permanências de Daniel P. Kidder, o missionário metodista americano que viveu no Brasil de 1837 a 1840.</span><br /><span style="font-size:85%;"><br /> Capítulo V<br />Hospitais: (sustentados pelas irmandades). </span></li><li><span style="font-size:85%;"><strong>Hospital de São Francisco de Paula</strong><br />Situado em local bem ventilado e é de ótima construção.<br />Cada doente é acomodado em alcova separado onde recebe as visitas do médico e cuidados dos enfermeiros<br />Amplos corredores circundam o prédio onde os doentes gozam ar puro e apreciam o magnífico panorama. </span></li><li><span style="font-size:85%;">Hospital dos Lázaros – Fica em São Cristóvão a algumas milhas da cidade<br />Recebe pessoas atacadas de elefantíase e outras moléstias da pele da mesma natureza que a lepra, enfermidades muito comuns no Rio. Houve alguém que pretendia ter descoberto que no Brasil, a elefantíase é a mesma moléstia que entre os gregos costumava ser curada com veneno de cascavel. Houve quem se submetesse à picada da cobra na esperança de se salvar, mas morreu. </span></li><li><span style="font-size:85%;">Santa Casa da Misericórdia – Situado ao pé do Morro do Castelo<br />· Tem as portas constantemente abertas aos enfermos e aflitos. A direção do hospital presta a mais eficiência assistência que pode, a todos indistintamente: homens e mulheres, pretos e brancos, mouros e cristãos.<br />· Mais de cinco mil doentes são ali tratados. Mais de mil morrem.<br />· </span><span style="font-size:85%;">O prédio é antigo e mal construído. </span></li><li><span style="font-size:85%;">Um novo hospital está em vias de ser construído. A primeira pedra foi lançada em julho de 1840. <br /></span></li></ul><p><span style="font-size:85%;"><strong>Concepção teatral da época</strong>: os esquemas de apresentação são rígidos. Existem as cenas de preparação. São geralmente curtas e funcionam como elemento de ligação entre uma cena e outra. </span></p><p><span style="font-size:85%;"><strong></strong><span style="font-weight: bold;">Chico -</span> Podemos montar a peça como se fosse novela. As cenas pequenas serão feitas como se anunciassem o próximo capítulo. O patrocinador da novela seria um remédio proibido. No outro intervalo vem a explicação que não se pode continuar com o mesmo patrocinador porque o remédio foi proibido.Como fazer estes anúncios? Falar com Climério, Lurdinha, Pedro Jorge.</span><span style="font-size:85%;"> Podemos também fazer um noticiário sobre os remédios.</span><span style="font-size:85%;"> Meu apelo: Vamos fazer uma coisa só pra chatear.<br /></span></p><p><span style="font-size:85%;"><strong>Antônio - </strong> Temos que discutir mais esse lance de se fazer a peça como uma novela.</span></p><p><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;">Chico - </span>Se discutir a gente não faz, fica com medo.<br /></span></p><p><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;">Antônio</span> - Se antes de cada cena, houver outra anunciando a peça pode ficar monótona. </span><span style="font-size:85%;"><br /></span></p><p><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;">Chico</span> - As cenas de TV seriam só as pequenas, as introdutórias de outras, as que já existem na peça. E também a da Rosinha falando... Uma boa maneira da gente não fazer a peça dum jeito monótono é não pensar que ela possa ficar monótona. Há também as peças chatas de propósito. O ser sepulto é uma peça chata de propósito.<br /></span></p><p><span style="font-size:85%;">Antônio! Você foi convidado pra jantar... Está com medo que a vida apodreça... Não acha mais sensato deixar para verficar na ocasião?</span><br /></p><p>Gente, não vamos combater as idéias antes de ver elas realizadas.<br /></p><p>Neste negócio de idéias tem duas posições. Não vamos ser falsos:<br /></p><ul><li><span style="font-size:85%;">Uma, a gestação de idéias – isso só pode ser feita se expulsarmos a polícia que existe em nós. </span></li><li><span style="font-size:85%;">A segunda, o desmanchar das idéias.</span><span style="font-size:85%;"><br /></span></li></ul><p><span style="font-size:85%;">Por isso precisamos ter, expor nossas idéias. Depois a idéia melhor briga com outra. A idéia melhor desmancha a menos boa.</span><span style="font-size:85%;"> Às vezes se dá o contrário. Então podemos lamentar o fato de não termos escolhido as melhores idéias.<br />Penso que a maior parte de nossas discussões que fazemos aqui falando podemos fazer de outro jeito: fazendo. Podemos aprontar cena por cena. Podemos escolher a cena que mais represente a idéia geral da peça e começa por ela.<br />O ser sepulto acomoda um pouco o que penso sobre teatro. Pra se fazer teatro é preciso se ter um bocado de idéias e confiar que outras pessoas dê outras idéias. Mas entre o pensar e o realizar existe um abismo muito grande. Há uma terrível sujeição. </span></p><ul><li><span style="font-size:85%;">O autor diz que a peça não devia ter começo e nem fim, mas a mãe da atriz acha que a peça deve ter fim.</span></li><li><span style="font-size:85%;">Perdi muitas discussões. Muitas idéias minhas foram colocadas de lado. As alguns símbolos permaneceram: os atores colocados de costas uns para os outros; as falas distantes uma das outras; os atores se dirigindo à platéia<br /><br />(Mas o rapaz que entrega o jornal, era pra entrar numa motocicleta, fazendo um barulho imenso. Mas o rapaz entrou de bicicleta. Por timidez. Timidez fazendo de conta que é coragem). </span></li><li><span style="font-size:85%;"> Penso que teatro bem feito é aquele que consegue a participação da platéia, mesmo que essa participação seja sair do teatro.</span></li><li><span style="font-size:85%;"> O que as pessoas falam na peça O ser sepulto é aterrador. O que eu fiz também é aterrador: fiz os atores ficarem conversando com a eternidade.</span></li><li><span style="font-size:85%;"> Em qualquer pensão as pessoas estarão conversando aquelas conversas do dia-a-dia. São só umas falas. </span></li><li><span style="font-size:85%;">Considero um elogio as pessoas dizerem que o texto é bestíssimo. Dizer isso é querer que o texto realmente exista. Que a peça tenha uma unidade dramática. </span></li><li><span style="font-size:85%;">O problema é que a peça não ta realizada. Tem de se fazer 300 peças e todas parecidas. Daí então pode ser que saia umas. </span></li></ul><span style="font-size:85%;"><p><strong>Carlos:</strong> O teatro pode existir sem texto, sem música. Mas não pode existir sem público. Por isso não acho válido fazer uma coisa que chateie o público. Que afaste o público do teatro. Se a gente fizer assim tamos contribuindo pra elitizar ainda mais o teatro. Fazendo teatro só pra uma pequena classe. </p><p><strong>Gustavo:</strong> Isso desestimula o público a ir ao teatro.</p><span style="font-weight: bold;">Pedro:</span> Pra gente fazer essas idéias que o Chico propõe é necessário antes preparar o público. O público brasileiro, o público de Brasília não ta preparado pra receber esse tipo de teatro.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico:</span> Quero saber quando é que se vai inaugurar essas preparação do público. Vamos ficar a vida toda, eternamente dizendo que o público não está preparado para essa ou aquela maneira de fazer teatro. Se a gente pensa assim, vamos ficar fazendo da mesma maneira, sempre. Quanto ao teatro ser elitizado, ele é, vai ser e não é culpa do teatro, mas da estratificação social. Se as pessoas não comem, não tem onde morar, como deselitizar o teatro? Acho ridículo se apresentar peças produzidas aqui em Brasília nas cidades satélites. Antes de ir se fazer teatro lá é preciso sanear aquelas cidades, botar água e esgoto. E depois, ao irmos apresentar este nosso teatro lá estaremos afogando as coisas espontâneas deles, o carnaval, a cachaça nos botecos, o futebol nas ruas.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Pedro:</span> Você teria coragem de... <br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico:</span> Por favor, não faça perguntas sobre minha coragem, eu não tenho nenhuma. Outra coisa que quero deixar clara: desconfio que sei fazer mas não se pode, não posso fazer só. Preciso, precisamos de pessoas que topem correr o risco.<br />Outra coisa: Devemos dar fim a todas as coisas que hoje a maioria não tem? Se fizermos isso, a maioria jamais terá direito a estas coisas, pois foram exterminadas. E depois, as coisas de elite e as coisas poulares guardam relações. A arte popular guarda relações com a arte aristocrática.<br /><br />Função do teatro: Cartática<br /><br />Brecht: o teatro deve assumir a forma popular. Perceber os problemas gerais, torna-los claros às pessoas. Colocar as pessoas diantes dos problemas delas. Não convencer ninguém.<br /><br />Vou dizer agora uma coisa que sempre tenho notado quando discutimos: Temos medo de ficar diante de nossas idéia. Então ficamos sempre dizendo umas frases que já estão aí, uns comentários velhos. A gente precisava era de pegar nossas idéias, apresentá-las e colocá-las na posição vertical. Na verdade eu penso muito, tenho muitas idéias. Sou contra muita coisa que existe aí, que se faz em teatro. Mas não to muito convencido do que penso. Por isso eu quero, é preciso discutir. Mas discutir. Discutir.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Obs. Chico falou também sobre a responsabilidade social do gosto.</span><br /></span><p></p>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-71477670124384580892008-11-10T10:34:00.000-08:002008-11-11T14:57:22.665-08:00Vendo as intenções do texto...Terça-feira, 19-10-76<br /><br />Quem estava: Clara, Bia, Márcia, Carlos, Felipe e Gustavo.<br /><br />O pessoal se reuniu para ver as intenções do texto.<br /><br />Carlos: O loiro poderia ser o Augusto. A peça depende dele. Acho que é o personagem mais importante. Cara forte, capaz de segurar.<br /><br />Gustavo: Me identifico mais com o Marcos. O homem dos bichos tem que ser uma pessoa bem alta, o Carlão. Dá um toque final no Durvalino, pra ver qual é, se ele vai participar da peça.<br /><br />Antônio: É bom se dar uma música para cada personagem.<br /><br />Cena V:<br /><br /><ul><li>Um silêncio no começo. Depois uma gozação de hino na eloqüência do Cautério. A cena torna-se monótona e para ressaltar isso, termina com muito barulho. Cautério entra com roupa de açougueiro porque a alopatia tira sangue. Associação com a medicina atual, medicina comercial. </li><li>O homeopata deve ser um cara charlatão. Pratica um tipo de medicina pouco usada. Oportunista. Um cara bem doido.<br />O hidropata deve ser um matutão, o que se nota pela vestimenta, calça longa, amarrotada, suspensório.<br /></li></ul><p>Márcia: Imagino miléssimo moderninho, cabeludo. E o homeopata usa óculos escuros.<br /></p>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-81511274812689920272008-11-10T10:27:00.000-08:002008-11-11T14:54:09.464-08:00Ainda sem anotações encontradas...Segunda-feira,18-10-2008Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-78582326059597671742008-11-10T10:22:00.001-08:002008-11-11T14:53:34.716-08:00Ainda sem anotações encontradasSexta-feira, 15/10/1976Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-50141906046327074632008-11-10T05:56:00.000-08:002008-11-10T06:03:06.007-08:00Montar um texto não é o mais importante. O mais importante é o que acontece ao redor<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYy6yYQX1nvV5sIoEjoiHLtff6hX-qKzvxXcXDpcNlzGJj0Fq6ButAxQl60yK3YfhHbOfS6N6M4u56yR_lj9J-GZI8sgbkF3wVX5m9PjguLTbVBhU-AOzGn9NKgOZ2hEeCkIJu04wCWcc/s1600-h/manuscrito.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5267028604587818834" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 262px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYy6yYQX1nvV5sIoEjoiHLtff6hX-qKzvxXcXDpcNlzGJj0Fq6ButAxQl60yK3YfhHbOfS6N6M4u56yR_lj9J-GZI8sgbkF3wVX5m9PjguLTbVBhU-AOzGn9NKgOZ2hEeCkIJu04wCWcc/s400/manuscrito.jpg" border="0" /></a><strong><br /></strong><div><span style="font-size:85%;"><strong>Quinta-feira, 14/10/1976<br /></strong><br />Chico – Turma boa.... nós já fizemos e desistimos de muitas coisas. Tudo bem! Agora, nosso acordo é tentar montar ‘Os três médicos’. No pé em que estamos, devemos apreender o texto - está lá defronte – na parede - e cada um tem uma cópia que eu paguei e não estou cobrando). Então, vamos criar coisas para esta grande farsa (ou não? Digam uns aos outros). </span><br /><br /><span style="font-size:85%;">Se vocês não estão a fim terão de me dizer diretamente, pois eu me nego a compreender através de indiretas. Penso que o curso já produziu resultados estimáveis e se vocês só queriam isto, tudo bem! Espero que me digam claramente, pois já tivemos em aulas extras o suficiente para cumprir as exigências do curso – o que nos dispensa de mais tarefas. Falem claramente. Penso que poderemos aproveitar a oportunidade para pensar algumas coisas para os problemas atuais do Teatro no Brasil. Fazendo! </span><br /><br /><ul><br /><li><span style="font-size:85%;">Decorar o texto não é fundamental. Fundamental é inventar. O texto é de vidro. As invenções não são para quebrá-lo, mas para poli-lo.</span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Precisamos colocar as falas mais distantes umas das outras. Colocar no meio o futebol. Gravar o jogo de futebol: situações de impedimento, o gol, a fala da Zebrinha (TV Globo).</span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Precisamos saber como anunciar a peça, os cartazes. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Gravar uma entrevista sobre o que as pessoas acham do teatro. Gravar as respostas. Serão usadas durante a peça. De repente, perguntar para alguém do público o que acha do Teatro. A resposta sai, mas do gravador. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Podemos colocar os atores em fila, protestando contra a lei que regulamenta a profissão de ator. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Quando Miguel aparecer ou falar, coloca-se a música ‘Navegar é preciso’ ou ‘Cisne Branco” ou um apito de navio (o personagem é oficial da Marinha). </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Tirar partido dos defeitos: os atores estão ainda se arrumando e a luz acende. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Ler e ver na peça: a intenção, o tom dela, as cenas que auxiliam ou negam a intenção. Isso para se obter um gráfico de intenções e de incoerências. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">O médico alopata pode entrar em cena empurrando um carrinho de supermercado cheio de amostras grátis e distribuir a todos. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Em algumas cenas, os atores conversarão com o público, falarão dirigindo-se ao público e não um para os outros. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Se a peça for encenada no Galpão, colocar alguém todo o tempo rodeando a arena. É o vigia da peça, um polícia ou um padre. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Dizer no programa, que o homem que anda em volta da arena é um polícia e que estamos reivindicando um policiamento ostensivo no teatro, como nas praças públicas e no futebol. Não um policiamento confortável, sentado (como acontece), mas em pé, andando, como no futebol, nos jardins. </span></li><br /><li><span style="font-size:85%;">Montar um texto não é o mais importante. O mais importante é o que acontece ao redor.</span></li></ul></div>Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-37058111556346925482008-11-04T14:37:00.000-08:002008-11-04T14:47:11.200-08:00Como imaginamos os médicos?<span style="font-size:130%;"><span style="font-weight: bold;">Quinta-feira, 13 de Outubro de 76 </span></span><br /><ul><li>Olhando as cenas coladas nas cartolinas percebe-se de imediato que existem cenas bem longas e outras bem curtas. Podemos trabalhá-las com esse dado.</li><li>Precisamos arranjar as fitas cassetes. Dezoito. Uma para cada cena. </li><li>A cena da Rosinha falando (XI) pode ser feita na TV. Primeiro aparece a Rosinha falando e depois slides que tenham relação com que ela está dizendo.<br /></li></ul><br /><span style="font-weight: bold;">Começam a fazer as cenas. </span><br />São feitas as cenas XVI, XVII, XVIII<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Depois:</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Antônio -</span> Precisamos dar atenção ao espaço que ocupamos. Fazer mais ou menos a marcação do espaço.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Cláudio - </span> Não to achando legal a gente começar a fazer pelas últimas cenas. Se a gente começar do início é possível se estabelecer o ambiente da peça.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico - </span>As cenas musicais não têm tradição. As situações, tanto no início, meio ou fim precisam ser criadas. A peça pede nossa colaboração. A peça mostra 3 médicos despistando um doente. Devemos começar a fazer pela cena que indique esta situação mais claramente.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Começa-se novamente a fazer. Pela cena XV. </span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Chico: </span>João, esqueça de interpretar e se preocupe em fazer com que as pessoas entendam o que você está dizendo.<br />Vocês já foram à Pirenópolis?<br />Viram o teatro que fazem lá?<br />É horrorosamente mal feito.<br />Falam declamado. Pontuam os gestos.<br />Há aí toda uma estrutura do mau gosto.<br />Podemos fazer um teatro assim: escandaloso, entrecortado, pausado (Não há necessidade de se falar o tempo todo).<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Como imaginamos os médicos? </span><br /><br /><ul><li> O homeopata – hippy</li><li>O hidropata - matuto </li><li>O alopata – declamador<br /></li></ul>(Se esses tipos se mostrarem bons podemos exercitá-los).<br /><br /><span style="font-weight: bold;">O homeopata hippy</span> – fala manso o tempo todo. Com os olhos brilhando.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Malandro e hippy:</span> Qual a diferença?<br /><br />O malandro acha que pode resolver qualquer situação. <br />O hippy é o malandro da sociedade de consumo. Malandragem da ausência, omisso. Conhece as técnicas da repressão, por isso não enfrenta.<br />Os dois são extremamente parecidos. São os ídolos da marginália.<br /><br />Podemos fazer um teatro livre das regras usuais.<br />Mas se ver livres das regras é obedecer algumas:<br /><br /><ul><li>Falar dum jeito que a última pessoa da fila possa ouvir. A velhinha meio surda da última fila deve ouvir também.</li><li>Colocar a intenção da peça em cada palavra, cada frase que for dita. Cada cena tem também uma subinteção já que a peça toda tem uma intenção. </li><li>O gesto é sempre anterior às falas. Por isso pode-se explorar o ridículo do declamador. O declamador fala pra depois fazer o gesto correspondente.<br /></li></ul><br />Vamos nos organizar?<br />Nos ancorar no texto?<br />Como? Ler, interpretando.Clara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8184090797890037574.post-76012893856964180292008-11-04T14:34:00.004-08:002008-11-04T14:36:50.520-08:00Os três médicos Cena XVIIIClara Favillahttp://www.blogger.com/profile/15439218427586455506noreply@blogger.com0